Neste artigo continuamos a apresentar uma síntese das principais conclusões contidas no recente relatório do Painel Intergovernamental para o estudo das mudanças climáticas (IPCC), designado por Relatório de Avaliação 6 (Assessment Report ou AR69. São referidos com frequência os dados e as conclusões obtidos desde 2013, quando se publicou o AR5, e o presente, para evidenciar a cada vez maior certeza que existe, acerca da influência das actividades humanas na mudança climática e a taxa crescente a que esta se está a desenvolver, de acordo com diversos indicadores objetivos.
O Relatório de Avaliação anterior AR5 já indicava que a influência humana tinha sido detetada na mudança de alguns extremos climáticos. No AR6 existe um capítulo dedicado a este assunto, no qual se conclui que constitui agora um facto estabelecido que as emissões de gases com efeito de estufa, induzidas pela acção humana, conduziram a um aumento da frequência e/ou da intensidade de alguns extremos climáticos, desde 1850, em particular de extremos da temperatura. Esta evidência de alterações observadas e a atribuição à influência humana foi reforçada desde o Relatório anterior, para diferentes tipos de extremos, em especial para precipitação extrema, secas, ciclones tropicais e extremos que derivam desta conjugação de condições, como é o caso do perigo de incêndio.
No Relatório anterior estimava-se que o valor de 1.5º C de aquecimento global (ou seja, a temperatura média da atmosfera para um período de 30 anos), admitindo a existência de uma taxa de aquecimento constante e continuada, seria atingido entre 2030 e 2052. No AR6, empregando aproximações ligeiramente diferentes das anteriores, mas combinando a estimativa aumentada do aquecimento global, e a resposta prevista para todos os cenários considerados, a estimativa da data de ultrapassagem do valor de 1.5ºC na temperatura média global (para um período de 20 anos) é que esta ocorra no início da década de 2030, ou seja, cerca de dez anos mais cedo do que a previsão do Relatório anterior, admitindo que não ocorre qualquer erupção vulcânica importante.
O Relatório anterior tinha estimado que a resposta transiente do clima à acumulação de carbono devido às emissões de CO2 estivesse na gama de 0.8 a 2.5º C por cada 1000GTC (uma giga tonelada de carbono corresponde a 3.67 GTCO2). Com base em evidências provenientes de diferentes origens, o AR6 preconiza um limite mais estreito para este parâmetro, entre 1.0 e 2.3º C por cada 1000 GTC, o que significa, em média, uma maior taxa de aumento da temperatura com as emissões.
O AR5 ao estudar o efeito da redução das emissões dos aerossóis de refrigeração, tinha visto que o mesmo se opunha aos efeitos das medidas de mitigação dos gases com efeito de estufa, por duas ou três décadas, para limitar o aquecimento global para 1.5ºC. O AR6 atualiza o estudo anterior e confirma que as mudanças nos factores de curto prazo, associados a estes aerossóis, irão muito provavelmente causar um aquecimento adicional durante as próximas duas décadas, em todos os cenários de previsão.
A redução temporária de emissões que ocorreu em 2020, associada ao confinamento do COVID-19, conduziu a um pequeno efeito positivo no balanço radiactivo.
Contudo as respostas regionais e globais a este forçamento são indetectáveis acima da variabilidade climática, devido à natureza temporária da redução das emissões.